sábado, 19 de julho de 2014

Aceitação do nome de Dunga mostra que para quem está faminto gororoba vira banquete

Dunga não foi oficializado como novo técnico da seleção brasileira. Mas seu nome ganhou força. E depois de Gilmar Rinaldi, um empresário de jogadores até então, assumir o comando dos times cebeefianos como dirigente, nada será surpresa. Nem mesmo a volta do treinador derrotado em 2010 agarrado a Kleberson, Grafite e Júlio Baptista.
O trabalho feito por Dunga na Copa da África do Sul não foi desastroso como o de Luiz Felipe Scolari no Mundial do Brasil. Mas convenhamos, não pode ser esse o parâmetro. A opção pelo "menos ruim" não aponta um bom caminho para o futebol brasileiro, pelo contrário. Voltaremos ao discurso de 2006?
Após a derrota para a França no Mundial realizado na Alemanha, a conclusão quase geral era a de que o time dirigido por Carlos Alberto Parreira não se dedicava como seria o ideal. Ainda assim ele retornou à seleção apenas seis anos depois, como coordenador. Com Dunga poderá acontecer o mesmo.
O capitão do tetra em 1994 jamais havia sido técnico na vida. Assumiu justamente com a missão de resgatar o amor à "amarelinha", mas isso se mostrou pouco para as pretensões brasileiras, que em certames de futebol sempre são as maiores, o título. Acertou e errou. Ficou pelo caminho. Depois disso, nada de positivo fez em quatro anos.
Desde que a CBF o descartou, em 2010, Dunga comandou o Internacional em 53 partidas (26 vitórias, 18 empates e 9 derrotas, aproveitamento de quase 60%) entre janeiro e outubro de 2013, quando foi demitido após uma derrota para o Vasco, em Macaé (RJ). Como treinador, não mostrou evolução desde que a CBF o despachou.
A volta de seu nome à pauta tem todo jeito de nova campanha de marketing mambembe para iludir torcida e imprensa. Como os retornos de Luiz Felipe Scolari e Carlos Alberto Parreira em 2012. A dupla foi resgatada com o status de "técnicos campeões do mundo pelo Brasil". Dunga pode reaparecer como "a volta do injustiçado".
Sim, ele seria o injustiçado, e não pelos atuais dirigentes, pois quem o contratou (ou seria inventou?) e demitiu foi Ricardo Teixeira. Aspectos técnicos, trabalhos recentes, nada disso seria considerado. Mais: a simples lembrança do nome de Dunga escancara a pífia fase dos técnicos brasileiros. Ainda assim há gente mais preparada no mercado.
Abel Braga, Tite, Cuca, Marcelo Oliveira e Muricy Ramalho foram campeões brasileiros e da Libertadores depois da saída de Dunga da seleção. Podem não ser os treinadores dos sonhos, mas têm mais currículo, experiência e trabalhos recentes apresentados. Qualquer um deles não seria tão absurdo como a volta do técnico da Copa 2010.
Mas se observamos Dunga como um progressso utilizando como paralelo o pífio trabalho de Scolari e Parreira na Copa 2014, até parecerá bom. Para quem está desesperado, faminto, qualquer gororoba será um banquete. Mas essa "fome" não pode nos fazer esquecer que o futebol brasileiro precisa de mais. Muito mais.
GETTY
Dunga treinou apenas o Internacional depois de ser demitido pela CBF após a Copa de 2010
Dunga treinou apenas o Internacional depois de ser demitido pela CBF após a Copa de 2010