domingo, 1 de abril de 2012

Zebra ou maracutaia?

As surpresas do GP da Malásia aumentam a curiosidade em relação ao próximo GP na China. Eu, particularmente, apostaria mais em outra boa corrida do mexicano Perez, mesmo sem pódio, do que numa segunda vitória de Alonso. Esta foi muito mais "achada" do que o 2.º lugar de Perez, que merecia ter sido o 1.º. Achada, pra não dizer facilitada. Pelo menos três motivos dão razão a quem pensar assim.

O primeiro foi o erro estratégico da Sauber de não ficar marcando os passos da Ferrari para entrar no box assim que Alonso entrasse. Naquele momento o pneu slick era 5 segundos mais rápido, e este foi o tempo que Perez perdeu ficando na pista com pneu de chuva por mais tempo do que Alonso. E, mesmo assim, o Perez estava tão mais veloz que foi buscar de volta a corrida que tinha sido jogada fora.
O segundo motivo foi o aviso dado pelo engenheiro de Perez pelo rádio: "Você deve saber que a equipe precisa muito deste segundo lugar". Dá até para entender que aqueles 18 pontos representam 41% dos 44 que a equipe conquistou durante todo o campeonato passado. Mas foi uma ducha de água fria e, pra mim, isso tirou a concentração de Perez, que vinha num ritmo excelente e seguro.
O terceiro motivo tem sua origem nos antecedentes da Sauber, como parceira da Ferrari, a ponto de usar o motor italiano e dividir tecnologia. O episódio mais marcante foi o da decisão do campeonato de 1997 em Jerez, quando Jacques Villeneuve (Williams) vinha se aproximando do líder Michael Schumacher e a troca de posição que daria o título a Villeneuve parecia inevitável. À frente dos dois estava o argentino Norberto Fontana, piloto da Sauber e retardatário. As câmeras de TV mostraram o poderoso Jean Todt, então comandante da Ferrari, deixar a sua posição no pit wall para ir até a da Sauber e cochichar no ouvido de Peter Sauber. Obviamente, Fontana deu passagem fácil para Schumacher e, conforme confessou recentemente a um jornal argentino, segurou Villeneuve por 3 ou 4 curvas "e nunca recebi um agradecimento nem de Schumacher nem de Todt". Claro que não recebeu. Porque não deu certo. Villeneuve alcançou Schumacher e passou, mesmo com o alemão tendo jogado o carro contra o dele (em 94 tinha dado certo contra Damon Hill). Villeneuve ganhou o título e o carro da Williams ganhou uma marca do pneu da Ferrari estampada na carenagem lateral.
A Sauber, no mínimo, não empurrou Perez para a primeira vitória dele e também da equipe (sem contar o tempo em que correu como BMW-Sauber e venceu uma com Robert Kubica). Perez nunca vai esquecer isso. Mas, ainda assim, chamou a atenção de todos. Quanto à equipe, deixou de escrever seu nome entre as vencedoras de GP, e de ter o passe de Perez ainda mais valorizado numa futura negociação. Receio de perder um volumoso patrocínio do México através de Carlos Slim, o homem mais rico do mundo? Nem este risco existia porque a Sauber tem como piloto reserva um outro garoto, provavelmente ainda mais promissor, chamado Esteban Gutierrez, hoje um dos candidatos ao título da GP2. Quem diria! Quase 42 anos depois da última vitória de Pedro Rodriguez em Spa-Francorchamps, o México volta a brilhar na F-1.