terça-feira, 6 de setembro de 2011

Ortiz, o homem que ajudou a fazer Leandro Damião o artilheiro do Brasil

“O que aconteceu foi que ele deu com a língua nos dentes!”, brinca o craque do futsal Luís Fernando Roese, o Ortiz, campeão mundial pela seleção brasileira em 1992. Ortiz é o coordenador do Projeto Aprimorar, criado pelo ex-presidente do Inter Vittorio Píffero, pelo qual passaram jogadores como Alexandre Pato, Ricardo de Jesus, Taison e... Leandro Damião. “Ele era mais cru, porque não teve formação nas divisões de base”, lembra Ortiz.

Artilheiro do Brasil em 2011, com 33 gols, novo dono da camisa 9 do Brasil, Leandro Damião deixou de ser “cru” para ser “craque”. Ops, talvez menos... Ortiz explica a transformação na vida e na carreira do centroavante do Inter, que saiu dos campos de várzea de São Paulo, jogou nos profissionais do Atlético de Ibirama-SC, antes de chegar a Porto Alegre.

PVC - Você é hoje coordenador das divisões de base do futebol ou do futsal?
ORTIZ -
Bem, a história começa porque eu tenho 22 anos de carreira no futsal, encerrei minha carreira no Inter e aqui comecei a trabalhar como coordenador das divisões de base do futsal e supervisor do time principal. Acontece que o departamento de futsal do Inter fechou e acabei trabalhando com aprimoramento de atletas. Não apenas os atacantes, meu foco maior. Quando o projeto começou, em 2005, a ideia do ex-presidente Vittorio Píffero era corrigir carências da base. Laterais que não sabiam cruzar, atacanets que tinham dificuldade para finalizar...

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Damião festeja contra Gana

PVC - De 2005 até hoje, quem trabalhou com você no projeto Aprimorar, do Inter?
ORTIZ -
Ah, teve muita gente. Jogadores que fazem carreira em clubes menores e outros que todos conhecem. O Pato, o Luís Adriano, Ricardo de Jesus, o Walter, o Taison...

PVC - É verdade que você achava o Ricardo de Jesus o melhor deles?
ORTIZ -
Quem era um fenômeno era o Pato! Um jogador que não tinha quase nada para aprimorar. Era só dar confiança a ele, porque os fundamentos ele tinha todos. Sabia chutar de chapa, de peito de pé, se posicionar. O que ocorre com o Ricardo de Jesus, hoje artilheiro da Série B pela Ponte Preta, é que tinha uma base técnica muito boa. Colocava-se bem, batia bem de peito de pé, chapado... Técnica muito boa!

PVC - E o Damião?
ORTIZ -
O Leandro Damião é um jogador que não teve formação em divisões de base. Então, era natural que fosse um jogador cru. Com o passar do tempo, evoluiu.

PVC - Como é um jogador cru?
ORTIZ -
Ele não teve orientação. Ele chegou ao Inter para jogar no time júnior, mas sem ter formação em divisões de base de outros clubes. Não tinha alguém para mostrar o que estava fazendo errado. Às vezes, dizer que estava batendo na bola muito curvado, corrigir o posicionamento do chute, do cabeceio, mostrar um vídeo.
Ele tinha qualidades suas. Por exemplo, era bom no cabeceio. Mas a cabeçada saía muito reta, não era para baixo. Tudo isso foi sendo corrigido.

PVC - Dominar uma bola, fazer o pivô, nisso ele tinha dificuldade?
ORTIZ -
Isso. Ele tinha imposição física dentro da área, porque já era forte. Mas a bola batia nele e voltava. Isso foi detectado pelo técnico do time júnior, o Osmar Loss, que nos trouxe para o projeto Aprimorar com um projeto para o Damião. Fazer o pivô, por exemplo, foi uma coisa que eu pude ajudar. Fui pivô no futsal.
Com o tempo, ele desatou a fazer gol, saiu do time júnior para o Inter B, tornou-se artilheiro e foi puxado para o time de cima pelo Jorge Fossatti, ano passado.

PVC - Você tem ideia da carga horária a que ele foi submetido?
ORTIZ -
É difícil dizer. Variava muito de semana a semana. Às vezes, fazíamos três treinos numa semana. Na seguinte, podia haver jogo e um treino só. Se tinha jogo, nós não o tirávamos da partida, porque essa era a prioridade.

PVC - Como você avalia hoje o trabalho de formação de jogadores de futebol no Brasil, comparado com outros esportes?
ORTIZ -
A grande maioria dos trabalhos em clubes grandes do Brasil é boa. É claro que há coisas para se corrigir, para melhorar. Acho que hoje há uma preocupação muito grande com a parte tática e isso deixa um pouco a parte técnica de lado. É preciso tratar mais da parte técnica.
Mas é preciso dizer que a evolução do Leandro Damião dependeu muito dele mesmo. Só aconteceu tudo o que aconteceu com ele, porque sempre foi muito aplicado, muito dedicado. Hoje, me parece que terá um futuro grande entre os melhores jogadores do Brasil.

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Ortiz: campeão
mundial de futsal
pela seleção, em 92