sexta-feira, 18 de março de 2011

VÍDEO: Torcer por time de outro Estado é um direito, mas não o ideal

Fortaleza e Flamengo se enfrentaram na noite de quarta-feira, na capital cearense, pela Copa do Brasil. Estive na transmissão da partida pela ESPN. Ao contrário do que aconteceu em outro duelo entre os times, pela mesma competição, há dois anos, desta vez o estádio não recebeu tanta gente. Foram quase 47 mil pagantes em 2009 e pouco mais de 21 mil (pelos números oficiais) desta vez. Reflexo do "olho grande" de quem elevou os ingressos a inacessíveis (para a maioria) R$ 50.

Ao contrário do que, mais uma vez, previa parte da mídia concentrada no Sudeste, os rubro-negros não dividiram o Castelão com os fãs do Leão. O Flamengo tem, todos sabem, muitos torcedores no Nordeste e no Ceará. Mas os dois maiores times de Fortaleza são mais populares do que qualquer outro na capital do Estado. Assim, embora existissem quantidade maior de flamenguistas nas cadeiras inferiores, a torcida do Tricolor de Aço era mais numerosa nas arquibancadas e no total.



Torcedores do Flamengo no Castelão: em bom número, não a maioria

Em 2009, com o estádio quase que totalmente repleto, a proporção era de aproximadamente dois leoninos para cada rubro-negro. Sim, uma presença muito significativa dos que apoiaram a equipe carioca. Mas não o bastante para fazer do Flamengo o time com mais apoio do lado de fora de campo. Diferentemente do que acontece em outras capitais, como Maceió, João Pessoa, Manaus, etc. Nessas cidades, joguem contra quem for, os flamenguistas são maioria na cancha.


Galera do Fortaleza faz a festa: apoio ao time de fé, mesmo na Série C
A maneira com algumas pessoas repudiam os que torcem por clubes de outros Estados é abominável. Faixas chamando esses torcedores de "Vergonha do Nordeste" já foram vistas no Recife e em Salvador, especialmente. Cada um torce por quem bem entende, ninguém é obrigado sequer a ter time preferido, muito menos deste ou daquele lugar. Respeitar a preferência de cada um sim, é obrigação. E tamanha intolerância só afasta aqueles que, eventualmente, possam refletir a respeito.

Outro argumento tacanho é alimentado por alguns dirigentes e torcedores de times paulistas. Aparentemente inconformados com a popularidade de clubes cariocas, em rasgos de bairrismo (que também vem em sentido contrário em diversas ocasiões e por razões (?) várias) alegam que um flamenguista de Teresina, por exemplo, tem dois times e o clube de Ronaldinho Gaúcho é o segundo em seu coração. Mas não usam o mesmo raciocínio quando batem no peito para dizer que o Corinthians tem a maior torcida de todo o Paraná. Ciuminhos é?

Os "mistos", como torcedores de clubes do Nordeste chamam aqueles que têm um clube de fé onde vivem e outro de um centro maior, evidentemente existem. E é claro que o sujeito pode ser primeiro torcedor do CSA e depois do Vasco, ou o inverso disso. O mesmo vale para os são-paulinos de Campo Grande (MS) ou palmeirenses de Londrina (PR). Podem até mesmo dividir sua paixão seguindo com fervor os dois times, que raríssimas vezes ficam frente a frente, separados por várias posições entre as diferentes Séries do Campeonato Brasileiro.

Concordo que se as pessoas torcessem mais pelos times de suas cidades eles seriam mais fortes, afinal, atrairíam públicos maiores e ampliariam a capacidade de arregimentar sócios, por exemplo. Isso também daria condições para negociar contratos de patrocínio melhores. E com tudo isso, times mais competitivos poderiam ser formados. Com poucos a apoiar tais clubes, eles fica cada vez mais frágeis. Mas é assim no Brasil e, insisto, ninguém é obrigado a torcer por A ou B.

Os vídeos abaixo, feitos menos de uma hora antes do cotejo Fortaleza 0 x 3 Flamengo, e logo após a entrada em campo das equipes, mostram as duas torcidas e a bela festa dos tricolores do Ceará. O Leão está na terceira divisão nacional, mas a existência dessa gente que torce e sofre por ele me dá a certeza de quem irá se recuperar. Como o Ceará subiu, o Bahia voltou, Remo e Paysandu voltarão, e o Vitória também. Assim como Sport, Náutico e Santa Cruz, ABC, América, times que se espalham entre as Séries B, C e D. E quem tem torcedores fiéis a eles.