Tudo começou em 1953, com a chegada do técnico Fleitas Solich, do Paraguai. Apesar de sua origem, nada tinha de “cavalo paraguaio”. Vindo de anos sofridos, na era pós-Zizinho, oFlamengo voltou a ganhar respeito assim que Fleitas assumiu o comando da equipe. Revelou o quarteto Dida, Zagallo, Evaristo e Babá, que carregaram o time no Carioca daquele ano, junto com Benitez, artilheiro com 22 gols. Em 27 jogos, foram 21 vitórias, quatro empates e somente duas derrotas, tendo o melhor ataque da competição, com 77 gols marcados, e também a melhor defesa, com 27 sofridos. Nem precisa falar que foi “fácil” ganhar o Carioca com aquele time.
Naquele ano, Dequinha, Índio e Rubens foram convocados para a Seleção Brasileira, que disputou a Copa do Mundo da Suíca. Com o quarteto de volta, no ano seguinte, o Fla voltou a dominar o Rio de Janeiro, e conquistou o seu segundo tricampeonato carioca da história, com direito a uma acachapante goleada de 6 x 1 sobre o Fluminense, durante a fase classificatória, e dois triunfos sobre o Bangu, na decisão, sendo um deles no Maracanã lotado, com 140 mil torcedores, que viram Dida brilhar e comandar a goleada por 4 x 1.
Entre 1956 e 1960, o elenco caiu de rendimento, e não conseguiu manter a série de conquistas seguidas. Até conquistaram vários torneios amistosos, como o Torneio Internacional do Morumbi, o Troféu Embaixador Osvaldo Aranha, o Troféu Ponto Frio, a Taça Brasília, o Troféu AIK, na Suécia, o Troféu Sporting Club de Portugal, em Portugal, o Torneio Quadrangular de Israel, em Israel, o Torneio Hexagonal do Peru, no Peru, e o Torneio Início do Rio de Janeiro, mas nada de muita expressão, à altura da instituição Flamengo.
Durante esses anos, algumas mudanças aconteceram no elenco. Já ídolo, Evaristo foi transferido pra o Barcelona/ESP. Logo após sua saída, Zagallo também se despediu, indo para o Botafogo, de Garrincha e Nilton Santos. Em contrapartida, o técnico Fleitas, que havia deixado o comando da equipe, voltou para a Gávea, e viu novos talentos surgirem por lá, entre eles o meia Gérson.
E é aí que a história ganha maiores formas. Em 1961, o Flamengo voltou a colocar medo nos adversários. Logo no começo da temporada, a volta por cima veio em grande estilo, no Torneio Octogonal de Verão, que seria algo qualquer, se não contasse com Flamengo, Vasco, Corinthians, São Paulo, River Plate/ARG, Boca Juniors/ARG, Nacional/URU e Cerro Porteño/URU.
A disputa aconteceu no sistema todos contra todos. Na estreia, o Flamengo derrotou o Corinthians por 2 x 1, fora de casa. No duelo contra o segundo paulista, venceu o São Paulo por 3 x 2.
Apesar disso, a goleada sofrida não abateu o time do Flamengo, que foi até o Uruguai e venceu o Nacional por 1 x 0, no Centenário de Montevidéu, pela penúltima rodada.
Por fim, no mesmo local, confirmou o título continental derrotando o Cerro Porteño, por 2 x 0. Nesse jogo, Babá, artilheiro do Flamengo, ainda havia feito mais um gol legítimo, mas o juiz anulou, claramente tentando ajudar o Cerro, que precisava apenas de um empate, mas terminou com o vice-campeonato.
Nas arquibancadas, 43 mil torcedores uruguaios ficaram incrédulos. No vestiário rubro-negro, Gerson não segurou a emoção e foi às lágrimas, abraçado a Fleitas Solich, que afirmou: “Este é o verdadeiro Flamengo, que tão bem soube representar o futebol brasileiro”. A conquista foi muito festejada, sendo cotada como uma das maiores da história do clube. Na época, talvez a maior, devido às circunstâncias da competição.
No mesmo estádio, o histórico Centenário de Montevidéu, venceram o Cobreloa por 2 x 0 e reconquistaram a América. Dessa vez, com mais reconhecimento. Com mais brilho, talvez.
Mas quem comemorou os gols de Babá, Dida, Gerson, Moacir e Henrique, naquela campanha de 1961, jamais esquecerá que, através daquele rolo compressor, o continente já havia sido marcado com o sangue vermelho e com a raça negra encarnada do manto sagrado.