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Único brasileiro a marcar gol na Copa do Mundo de 1934. Primeiro brasileiro a ser artilheiro de um Mundial, em 1938. Primeiro atleta nacional a receber dinheiro por marketing. Provavelmente o primeiro ex-jogador a se tornar um comentarista de sucesso. O responsável por popularizar a bicicleta no Brasil. O primeiro craque brasileiro antes de Pelé. Enfim, o primeiro em tudo.
Leônidas da Silva (à esq) em ação na Copa do Mundo de 1938 contra a Suécia: pioneiro
Há exatos dez anos, no dia 24 de janeiro de 2004, Leônidas da Silva morria em uma clínica para idosos na Granja Vianna, em Cotia (SP). Tinha 90 anos e lutava contra pneumonia, diabetes, câncer de próstata e mal de Alzheimer. Como legado, deixou o pioneirismo em várias frentes no nosso futebol.
O pontapé para tudo isso foi em um palco que o Brasil viu vários craques brilharem: uma Copa do Mundo. Em 1938, Leônidas marcou oito gols no Mundial, segundo os franceses: quatro contra a Polônia, dois contra a Suécia e mais quatro contra a Tchecoslováquia - a Fifa, mais tarde, contabilizaria três tentos contra os tchecos.
O sucesso foi imediato. O Brasil, que terminou em terceiro naquele Mundial vencido pela Itália, entrou no rol das seleções que os europeus passaram a olhar com carinho. Culpa de Leônidas. Com facilidade para saltar e alcançar a bola, foi apelidado de Homem-Borracha.
Ninguém na época viu os gols do jogador. Mas a fama atravessou o Atlântico. Todos queriam ver Leônidas. E até se aproveitar de sua fama. A Lacta fez uma proposta: 2 contos de réis para utilizar o apelido do jogador, Diamante Negro, para batizar um chocolate. Pedido aceito. Mais tarde, o craque ainda virou nome de relógio e de marca de cigarro.
Seria ainda o primeiro jogador brasileiro a ter um gestor de imagem, conforme afirmou André Ribeiro, seu biógrafo, em entrevista à Folha de S. Paulo no último ano.
Leônidas ainda seria protagonista da maior transferência entre clubes brasileiros na época. Em 1942, após brigar com o Flamengo, ele foi vendido por 200 contos de réis ao São Paulo (cerca de R$ 200 mil). No time paulista, além de fazer sucesso e se tornar um dos grandes jogadores da história do clube, foi treinador. Não foi tão bem.
Abandonou a carreira de técnico e foi convidado por Paulo Machado de Carvalho, uma pessoa importante e influente em sua carreira, para atuar como comentarista de rádio. Aceitou e aprendeu bem o novo ofício. Mais tarde, ganharia sete troféus Roquette Pinto - um dos grandes prêmios do jornalismo esportivo - pela função. Na década de 70, diagnosticado com Alzheimer, abandonou a profissão.
Número um no marketing, na artilharia em Copas e como ex-jogador-comentarista. A dúvida que restou na sua carreira foi a comparação com Pelé: quem era melhor? O próprio Diamante Negro respondeu. "A diferença entre eu e o Pelé? Eu fui craque. E ele é gênio."
Seria Leônidas o pioneiro em humildade entre os craques brasileiros também?