terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Roberto Carlos apoia Bom Senso, compara Brasileiro ao Espanhol e se diz discípulo de Guus Hiddink

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Roberto Carlos agora é técnico do Sivasspor
O ex-lateral agora é técnico do Sivasspor
Roberto Carlos, como jogador, dispensa apresentações. Campeão do mundo, da Liga dos Campeões, do Mundial Interclubes, do Campeonato Espanhol, do Campeonato Brasileiro e por aí vai. Um dos maiores laterais-esquerdos de todos os tempos, sem dúvida alguma.
Como treinador, porém, Roberto Carlos, 40 anos, precisa de apresentações. Após ficar pouco mais de uma temporada trabalhando como assistente técnico de Guus Hiddink no Anzhi, logo após se aposentar, o brasileiro assumiu neste ano o desafio de começar a carreira de técnico. Foi contratado pelo Sivasspor, da Turquia, e faz ótimo trabalho até aqui, mantendo o time entre os seis primeiros colocados.
Nesta entrevista, falou sobre essa nova experiência e também Seleção Brasileira, racismo na Rússia, Brasileirão, Bom Senso e a ideia de permanecer na Europa por muito tempo ainda.
Como você avalia até aqui sua primeira temporada como treinador?
Até o momento vai tudo bem aqui no Sivass. Boa campanha, perdemos o clássico para o Galatasaray, mas estou conseguindo montar um bom time e um bom ambiente, está todo mundo super feliz. É mais ou menos por aí, tem que continuar assim para seguir tendo resultado e pensar, no futuro, logo logo, em um time maior e com mais pressão.
O que tem sido mais difícil para você ao tentar transmitir todo seu conhecimento para os jogadores?
Não tenho encontrado dificuldades aqui. Sou muito simples trabalhando também, não vou ficar inventando muito. Só faço os treinamentos com a minha comissão técnica brasileira, e no campo a gente conversa bastante com os meninos para eles trabalharem bem, com alegria, com motivação. Aí fica tudo mais fácil.
Qual é o principal objetivo do Sivasspor nesta temporada do Campeonato Turco?
Tentar, pelo menos, chegar entre os quatro ou cinco primeiros para no ano que vem chegar na Europa League. Além disso, chegar também na decisão da Copa da Turquia, que é um título importante para o clube.
O Cicinho tem te ajudado bastante?
O Ciço está em uma fase super boa, estou muito feliz com ele também. Foi uma alegria muito grande pra mim ele ter aceitado meu convite para jogar aqui. Tem me ajudado dentro e fora de campo.
Divulgação
Roberto Carlos na apresentação ao Sivasspor
Roberto Carlos na apresentação ao Sivasspor
Acha que nesta temporada da Turquia o título pode sair das mãos de um dos grandes do país, Galatasaray, Fenerbahçe e Besiktas?
É difícil agora para o Sivass, o Trabzon, o Bursas ser campeão do Campeonato Turco. Fomos jogar contra o Galatasaray lá e o juiz expulsou três jogadores nossos e deu quatro cartões amarelos, ficamos sem seis titulares no jogo seguinte em casa. Ali foi claro que o Sivass está incomodando muita gente aqui, pela maneira como estamos jogando, todo mundo tem elogiado muito nosso time. Fizeram de tudo para tirar a gente lá de cima, aqui é um pouco complicado para um time considerado pequeno ser campeão.
Tendo esse histórico recente de manipulação de resultados na Turquia, você fica preocupado com isso? Pode haver algo assim nesta temporada?
Não, nesse ano não. Acabou. A besteira já foi feita e já foi paga, com Fenerbahçe e Besiktas fora das competições europeias na próxima temporada. Mesmo o presidente do Fenerbahçe sabe que se equivocou. Agora não vai ter mais isso, está tudo tranquilo por aqui.
Sobre o seu período na Rússia, no Anzhi Makhachkala. Você ficou pouco mais de uma temporada trabalhando como assistente técnico do Guus Hiddink. Aprendeu muito com ele?
Ele me ensinou muito. Eu passava quase todo dia no centro de treinamentos com o Guus Hiddink. A gente falava muito sobre futebol, sobre a experiência dele, enfim, e nos dias de jogos ele me ensinava muito também. Como conversar com um jogador, como tratar um jogador, como fazer uma reunião com os jogadores, a preleção. Ele sempre foi mais a parte psicológica do que o trabalho tático e técnico, ele me ensinou um pouco de tudo para começar bem a carreira.
Hoje o Anzhi já não é mais aquele clube com orçamento gigante, está mais modesto, depois da retirada de parte dos investimentos do proprietário Suleyman Kerimov. Você imaginava que isso iria acontecer?
A gente fala modesto porque na época o Anzhi gastava 170 milhões de euros, hoje eles gastam 50 milhões de euros, mesmo assim há muitos times na Europa que não têm esse valor anual. Pelo que era e pelo que está sendo, me surpreendeu muito. É triste porque conseguimos fazer do Anzhi um time profissional, e agora vai em último na liga russa, na Liga Europa conseguiu se classificar... Mas é ruim ver o time que você viu do nada virar profissional e agora cair. O jeito é esperar, ver o que os caras vão fazer, desejo sorte... Converso sempre com os meninos lá, estão todos felizes, vamos ver se o Suleyman ajuda um pouco mais para o time voltar a ser grande dentro do futebol russo.
E você sempre teve um bom relacionamento com o Suleyman, certo?
Sempre. Relacionamento meu com ele é normal, tratava ele como uma pessoa da minha família, mas chegou uma hora que não aguentei e pedi para ir embora. Ele aceitou e desejou sorte, até isso ele viu que eu saí e resolveu sair um pouco do mundo do futebol e voltar aos assuntos que ele tinha antes.
O Bugatti Veyron que ele te deu de presente ainda está na garagem?
Em Madri, guardado. Não uso, já que estou morando na Turquia!
Como aconteceu o primeiro contato do Anzhi e qual foi sua reação ao ver que time era?
A proposta veio logo depois do gol que fiz contra a Portuguesa e também naquela semana turbulenta depois do jogo contra o Tolima, que eu nem joguei. Em uma segunda-feira recebi a ligação do Fabiano Farah para que eu fosse ao hotel Intercontinetal em São Paulo, porque havia uma pessoa que queria falar comigo. Aí saiu a proposta do Anzhi, e eu procurei saber mais sobre o clube. Na época o German (Tkachenko), que era o diretor do Anzhi, me deu toda segurança do mundo de que o time não iria morar em Makhachkala e sim em Moscou, e Moscou eu já conhecia, Makhachkala não. O contrato era de quatro anos, eu aceitei e fiquei feliz, de verdade, de poder conhecer aquele povo tão simples de Makhachkala e uma cidade tão grande como Moscou. Veio tudo na hora certa, não tenho do que reclamar.
Sobre Seleção Brasileira, como você avalia o trabalho do Felipão até aqui?
Avaliar o trabalho do Felipão é difícil. É difícil avaliar o trabalho de um cara que é vencedor. Ele está mostrando mais uma vez na Seleção que conhece aquilo lá, Seleção é algo natural para ele. Ganhou a Copa das Confederações, acho que na Copa do Mundo o Brasil vai bem, fará grandes jogos e, quem sabe, ganhar de novo essa Copa do Mundo tão esperada.
Na sua posição, o Marcelo é o titular absoluto da Seleção e não há um reserva definido ainda. O Marcelo é o melhor lateral-esquerdo do mundo na atualidade?
Na minha opinião, sim. Além de jogar no Real Madrid, pela maneira como ele joga é completamente diferente dos outros laterais de qualquer time, Bayern, Barcelona. Acho que ele é o melhor, principalmente pela sua experiência, é capitão, líder, tudo isso ajuda para que ele seja o melhor da posição no mundo.
Você acompanhou as manifestações organizadas pelo Bom Senso no Campeonato Brasileiro?
Tenho acompanhado sim. Acho que estão bem feitas, e espero que a CBF entenda isso. O jogador tem direito de reivindicar, estão nos direitos deles em pedir menos jogos, mais descanso e mais espetáculo. Não dá tempo de fazer nada! Não dá tempo de descansar, ficar com a família... Sempre tem jogos, viagens e hotel. Acho que isso está vindo em uma hora boa e espero que a CBF possa ajudar os jogadores e não pense somente nela.
Com toda experiência que você tem de clubes e Seleção Brasileira, CBF, acha que será necessária uma medida mais drástica dos jogadores para que a CBF mude radicalmente?
Não, não precisa ser tão drástico assim. Basta apenas a CBF abrir as portas, chegar em um acordo com os jogadores. Tudo é conversado, não adianta entrar em polêmica. Se tiver um acordo bom, jogadores, CBF, aí vai chegar em um consenso bom.
Com exceção da passagem pelo Corinthians, você passou os últimos anos da sua vida vivendo e trabalhando na Europa. Em que nível você coloca o Campeonato Brasileiro?
Coloco mais ou menos no nível do Campeonato Espanhol. O Campeonato Brasileiro é muito poderoso, muito potente, muito forte. Então coloco no mesmo nível, pena que a desorganização do futebol brasileiro acaba prejudicando um pouco isso, mas dentro de campo estamos no mesmo nível de futebol espanhol, futebol inglês, futebol italiano. Pra mim não há muita diferença.
Qual é a duração do seu contrato com o Sivasspor?
Dois anos, esse e mais um.
Sua expectativa é continuar na Europa ou treinar logo um time do Brasil?
Quero fazer minha carreira aqui na Europa, mas lógico, pra terminar de verdade no Brasil. Aqui serão mais uma dez anos, 15 anos e depois a gente vê o que faz.
Pra fecharmos a entrevista, um assunto chato e pelo qual você passou na Rússia: racismo. Você teve problema em dois jogos, contra Zenit e contra Krylya Sovetov, dois jogos fora, em São Petersburgo e Samara. A Rússia vai receber a Copa do Mundo de 2018. Esse é um problema que pode ser contornado, ser resolvido na Rússia, já que é uma questão social?
A Rússia não é um país tão racista assim. Pode ser que antes era um pouco mais, mas agora não tem tanto racismo na Rússia. Em outro dia na Espanha, por exemplo, houve o problema com o Paulão também. Isso aí é coisa de gente estúpida, sem educação, que vai ao estádio só para fazer baderna. A verdade do futebol russo não é essa. Um país civilizado, um país rico, é uma vez ou outra que acontece. A pessoa briga em casa e vai lá no campo encher o saco do jogador, mas não tem nada demais.